Um suspiro. Um
longo suspiro. É dessa forma que começo a vomitar em escrita, o que a fala não
foi capaz de dizer. Ou não quis dizer. Por covardia, medo, proteção. É controverso
esse bloqueio que me dá sempre que trato dos meus sentimentos. Logo eu, tão
falante, tão senhora de mim, tão transparente. Mas dessas coisas, meu caro,
ninguém esta à salvo. Tenho carcaça, verdadeiras armaduras construidas pelos
dissabores de vidas a dois, que vez em quando me protegem, vetando demasiados
falatórios desnecessários ou, até mesmo necessários. Engraçado, aqui também
continuo enrolando né?! Eu sei. Para mim é dificil te dizer o que senti, o que
sinto por nós dois. É perigoso entrar como eu entrei, me envolver como me
envolvi, numa relação onde eu já conhecia o desfecho. Onde desde o início fui
alertada: “É tudo somente sexo e amizade”.
Deixei o barco correr (ou seria o bote?), deixamos né?! E floresceu.
Inesperadamente. Aquele menino safado, com cara de cafajeste e atestado de
confusão-no-seu-coração, me queria perto dele. E eu queria ele perto de mim.
Arredio no início, foi cedendo, se mostrando…e me ganhando cada dia mais. E
aquela moça que no início dizia prepotente: “ A primeira a pular do barco sou
eu”, agora já pensava em comprar uma vela, pro barco navegar calmamente, no
rítmo que o mar escolhesse. Estou sendo vaga né, abstrata eu sei. Mas estou me
esforçando, juro. Te dizer o que estou sentindo é me despir na sua frente,
tirar a armadura, ficar vulnerável. A vulnerabilidade me assusta muito. Mas
esqueçamos toda essa baboseira. Não tem a mulher que pula do barco, não tem
armadura. Eu me envolvi e gostei. E continuo, medrosamente, gostando. Não crio
castelos mentais para nós dois porque não me permito. Porque você não me
permitiu também. Não, não estou jogando para você isso. Eu sei que existem
muitas outras coisas e pessoas envolvidas, não te peço explicações e nem
justificativas quanto a isso. Essas questões são suas. É você quem deve saber
delas, não eu. Mas negar a esperança, é negar a minha humanidade. É negar a
mim. Espero sim, que você volte logo, antes que tudo isso se perca, antes que a
minha covardia desista de tentar sonhar e eu ponha a armadura velha e pesada
mais uma vez. Que volte com o novo. Com o bote, com as cuecas, com a doçura e
até mesmo com as ferraduras (poucas, por favor). Quero sentir novamente o teu
peso sobre mim, te sentir do lado e por dentro, na nossa deliciosa comunhão e
troca. E o que vai ser disso tudo? Nem desconfio. Mas já gosto do que está
sendo
.
O que quero te dizer é que você, passarinho,
fez um ninho em mim. Cabe a ti ocupá-lo. Ou não.
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