quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Pensar é estar doente dos olhos

Ontem entrei numa livraria para fazer hora enquanto aguardava por amigos e me perdi nos poemas de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Tive felizes surpresas ao recordar coisas que havia lido há tanto tempo atrás. Como ando meio desleixada com o blog ultimamente, decidi trazer aqui um dos poemas dele de que mais gosto. Quando não conseguimos nos expressar, sempre tem alguém que faz isso pela gente! Acho que ando sem querer pensar, ando vendo.




    "O meu olhar é nítido como um girassol.
    Tenho o costume de andar pelas estradas
    Olhando para a direita e para a esquerda,
    E de vez em quando olhando para trás...
    E o que vejo a cada momento
    É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
    Sei ter o pasmo essencial
    Que tem uma criança se, ao nascer,
    Reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me nascido a cada momento
    Para a eterna novidade do Mundo...


    Creio no mundo como num malmequer,
    Porque o vejo. Mas não penso nele
    Porque pensar é não compreender...



    O Mundo não se fez para pensarmos nele
    (Pensar é estar doente dos olhos)
    Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...



    Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
    Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
    Mas porque a amo, e amo-a por isso
    Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe por que ama, nem o que é amar...



    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência não pensar..."



    (Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914)