sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Caracteres

"Restituo ao público o que ele me deu; dele peguei emprestado a matéria desta obra; é justo que, depois de a ter concluído com todo o respeito pela verdade de que sou capaz e que merece de minha parte, eu faça ao público essa restituição. Poderá contemplar com prazer este retrato, que dele fiz segundo o original e, se reconhecer alguns dos defeitos que aponto, procurar corrigir-se. É o único objetivo que se deve ter ao escrever e também o resultado que menos se deve esperar, mas, assim como os homens não desistem do vício, não se deve tampouco deixar de recriminá-los por isso.Talvez seriam piores, se viessem a faltar-lhes censores e críticos; é o que faz com que se fale e se escreva. O orador e o escritor não poderiam esconder a alegria que sentem ao ser aplaudidos, mas deveriam envergonhar-se de si próprios se, por seus discursos ou escritos, só tivessem procurado elogios; a aprovação mais sincera e menos equívoca é resultante da mudança de costumes e da reforma moral daqueles que os lêem ou escutam."

"[...] Aqueles, finalmente, que se dedicam a escrever máximas querem ser acreditados. Eu consinto, ao contrário, que digam de mim às vezes que não observei bem, desde que me provem ter observado melhor que eu."

** (Jean de La Bruyère, em "Caracteres".)