Eu estava já deitada, mas não resisti em levantar. Da minha cama eu vejo o computador, e na minha tela, Clarice, a Lispector. Me olhando violentamente. Eu tento me explicar, mas ela não quer nem ouvir. Disse que cansou da mesma história, do mesmo papo. Poxa, mas eu queria que ela soubesse que dessa vez vai ser diferente. Juro que vai!!! Para Clarice, com essa descrença! Eu sei que eu prometi, mas acontece né? Já conversamos várias vezes sobre a arte da repetição... Já conversamos diversas vezes sobre tudo. E eu sempre tento falar, mas suas palavras me calam. Na verdade ecoam dentro de mim, como se no meu corpo não tivesse nada, além do som daquelas palavras. A forma como tudo o que é dito por você vai se colando a cada poro da minha pele, e aí eu sinto que somos uma só. Engraçado eu dizer que sou você, ou que você sou eu. Engraçado e pretencioso, porque perto de você, Clarice, eu nem sei se realmente sou.
Obrigada por me ouvir, mais uma vez e sempre.
E desculpa, Clarice.
"Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”