Depois que temos um filho, passamos tanto tempo sendo mãe
que a mulher fica um pouco de lado, adormecida. A minha mulher andava bem
desprezada, sem tempo para reagir. Entre dissabores trabalhistas e agonias
convalescentes, a pobre coitada nem ousou pleitear lugar ao sol. Mas enquanto a
mãezona cumpria sua função, entre uma papinha e outra, sempre passava o olho na
velha amiga-cansada-de-guerra. Às vezes sussurrava em seu ouvido: “Calma minha
nega, seu tempo há de chegar”. Sorriso amarelo como resposta. E a mãe corria
para o médico, corria para o trabalho, corria para a creche. Até que um dia....
AAAAAAAAAAAH! EU QUERO UM LUGAAAR!!!
Esbravejou em alto e bom som, a mulher descabelada. Sem
poder conter a fúria daquela doidivanas, a mãe cedeu a vez. Ainda que sem muito
brilho, a mulher aprumou-se e, e em meio a um mar de chuva, desceu o morro em
direção a velha e conhecida zona boemia mais amada de São Sebastião do Rio de
Janeiro: A Lapa. Sem contar conversa, foi pro bar de costume. Solicitou ao
garçom: “Querido, mais um gengibre, por favor”, como de costume, Falou alto,
conheceu gente, repetiu esta frase ao garçom pelo menos mais umas 5 vezes, como
de costume. Finalizou a noite com um saldo super positivo, claro, como
costumava fazer. Foi ao trabalho, no dia seguinte, com a roupa da noite
anterior, olhos de ressaca faiscando e um sorriso de canto de boca de quem fica
repassando os fatos ocorridos, sem poder (nem querer) dividir com ninguém. Não
foi fácil desencorporar a mulher do corpo da mãe. Na verdade, ainda estou
tentando. A danada se instalou e não quer arredar o pé. Como amo muito estas
duas versões de mim, decidi misturá-las e deixarem que vivam juntas e em paz.
Portanto, aos desavisados, quando me encontrarem por aí, cuidado. Estarão
lidando com uma super Mãelher! E eu não respondo por elas...
inspiradinha, hein?!!!
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